Acervo cineclubista
Disponibilizamos nesta seção uma lista de 212 filmes com diversas temáticas, como "Filmes de terror feitos por mulheres", "Infância e Juventude", "Skate", "Filmes Históricos", "Filmes Capixabas", "Cinema Indígena", "Ecologia e Meio Ambiente", "Ditadura Militar", "Cinema e Negritude", "LGBTQIA+" e "Cinema e Periferia" A lista pode ser acessada logo abaixo.
A pesquisa de acervo é uma realização da OCCa, entre os anos de 2021 e 2022, feita com recursos da Lei Aldir Blanc, via Prêmio de Trajetórias lançado pela Secretária de Estado da Cultura do Espirito Santo
O projeto teve a coordenação de Leonardo Almenara e a curadoria de Rafaella Germana, Bárbara Galvão Silva e Larissa Azevedo.
textos curatoriais
Por Bárbara Galvão Silva
Compreendo a categoria “Cinema indígena” de uma forma mais ampla. São filmes que trazem, através das narrativas, uma problemática indígena ao imaginário eurocêntrico, sejam eles coproduções, produções e direção feitas por brancos ou filmes excepcionalmente feitos por indígenas. Grande parte das premiações listadas são de filmes de autoria branca ou em coprodução com indígenas, talvez por se aproximarem de uma estética Hollywoodiana. Entretanto, os filmes de autoria indígena possuem uma grande importância, pois trazem um “olhar de dentro”, se aproximando do real das comunidades apresentadas. O filme “Xapiri” é um exemplo disto, pois retrata o xamanismo dos Yanomamis se aproximando de um delírio eurocêntrico, através das saturações e imagens embaçadas/tremidas. Com isto, por um detalhe antropológico, grande parte dos filmes são categorizados como “Documentários” considerando que a produção indígena possui um caráter ou função de “Guardar a memória para os mais novos verem como era antes” (Alberto Álvares), dada a memória fragmentada pelo colonialismo e o genocídio em curso. É preciso um olhar mais atento a essa categorização: por que não chamá-las de ficções? Essa relação interétnica em que os filmes indígenas são produzidos colocam questões sobre a imagem verdadeira ou a narrativa verdadeira, pois os mitos indígenas narrados nos filmes podem produzir efeitos de ficção para os brancos. Diante disso, é possível se perguntar para quem esses filmes são produzidos e que efeitos subjetivos causam ao imaginário eurocêntrico. Por isso, considero que os filmes de autoria indígena não seriam categorizados apenas como “Documentário”, mas se aproximam das ficções científicas, no sentido de anunciar um novo mundo. Seriam “Ficções Mito-Xamânicas", de forma que as mitologias indígenas colocam questões ao imaginário eurocêntrico a fim de transformá-lo.
Por Bárbara Galvão Silva
Ecologia e Meio Ambiente. Optei, inicialmente, por buscar filmes que retratavam as tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho, acontecimentos essenciais para fazerem parte deste acervo. Após, isso busquei filmes que retratavam a mineração e outros tipos de exploração e formas de tratar a natureza enquanto recurso a ser explorado. Diversos filmes sobre o lixo e a reciclagem foram encontrados, enquanto críticas ao consumo excessivo e valorização de formas de desacelerar a destruição ambiental. Alguns dos curtas-metragens que considero muito interessantes encontrei em uma mostra de cinema ambiental promovida no Espírito Santo, o Cine.Ema. Porém, infelizmente, sobre algumas dessas produções não encontrei arquivos disponíveis online ou para download. Em alguns dos sites disponíveis no Google pela busca “Filmes sobre meio ambiente” trazem listas de filmes em um estilo mais Hollywoodiano sobre ecologia e meio ambiente, curiosamente muitos destes são de origem norte-americana, retratam desde a exploração animal, consumismo, e desastres ambientais em uma narrativa mais parecida com as ficções científicas (tornados, furacões, tsunamis e etc), em contraposição ao filmes dos desastres de Mariana e Brumadinho por exemplo, que são do gênero documentário. Justificando o fato de não listar a maioria destes filmes norte-americanos, pessoalmente considero contraditórios e me incomodo com filmes deste tipo de grandes produções, porém acho interessante pensar em como a maioria deles retratam a Ira de Gaia, a ideia de que a natureza não é meramente passiva e que o dano causado a ela retorna em formas de desastres e acontecimentos geológicos.
Por Rafaella Germano
A tarefa de realizar uma curadoria nos permite, além de dar visibilidade para filmes que já conhecemos e gostamos, conhecer novos filmes e expandir nossos horizontes cinematográficos. O trabalho aqui desenvolvido em conjunto com a OCCa foi a mistura entre conhecer filmes até então desconhecidos e selecionar filmes que já são velhos amigos, resultando em um acervo constituído a partir de muito afeto. A primeira temática escolhida, “Filmes de terror feitos por mulheres”, se relaciona diretamente com a pesquisa que venho desenvolvendo ao longo dos anos acerca do cinema de Horror feito por mulheres. A grande maioria dos filmes escolhidos são brasileiros, destacando o trabalho de grandes cineastas do gênero, como, por exemplo, Juliana Rojas, Anita Rocha da Silveira, Gabriela Amaral Almeida, dentre outras, exibindo a pluralidade do Horror inserido no cinema nacional. Os filmes aqui escolhidos, além de terem sido dirigidos por mulheres, possuem em sua quase totalidade protagonistas femininas e retratam questões sociais vividas pelas mulheres. Dentro da temática “Infância e Juventude”, decidi optar por filmes que dialogassem tanto com questões e problemáticas relacionadas à infância, quanto filmes que crianças e jovens gostariam de assistir, transitando entre animações, ficção e documentários. Além disso, dentro desta categoria criou-se uma subcategoria: “Skate”. O skate vêm ganhando cada vez mais destaque nacional e internacional, e o audiovisual é uma parte importantíssima para a cultura do skate, pois é através de vídeos e filmes que conseguimos ter um vislumbre do skate como estilo de vida, como ato revolucionário, e não somente como um esporte. Destaca-se aqui os vídeos do coletivo Flanantes, cujos temas de cunho político e questionamentos sobre o espaço urbano se mesclam com cenas de skatistas ocupando as ruas. Em relação aos “Filmes Históricos”, preocupei-me em selecionar documentários que retratassem períodos históricos, sobretudo brasileiros, como “Jango” de Silvio Tendler", e “A cidade é uma só?” de Adirley Queiróz; mas também filmes de ficção com uma grande relevância para a história do cinema em si, como é o caso dos primeiros filmes da pioneira Alice Guy-Blaché e filmes senegalenses, soviéticos e japoneses, fora do eixo hegemônico do mercado de cinema. Os “Filmes Capixabas” também tiveram enorme importância para mostrar quão rica é a produção cinematográfica do Espírito Santo, seja retratando documentalmente parte da cultura capixaba, seja criando narrativas fantásticas de diversos gêneros, além de resgatar a memória dos filmes de Orlando Bomfim Netto, um dos fundadores, diretor e presidente da Associação Brasileira de Documentaristas do Rio de Janeiro e também fundador da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas-metragistas do Espírito Santo, figura importantíssima para o estado e para a cultura cineclubista a nível mundial.
Por Rafaella Germano
Ditadura Militar
Levantamento: A partir de uma pesquisa no Google sobre filmes e ditadura militar foram selecionadas 7 listas de blogs, sendo eles de diversas categorias: estudos, filmografias e revistas. Selecionei cerca de 37 filmes me baseando nas revistas Brasil de Fato, Carta Capital e Exame. Optei por pesquisar filmes por categoria, como por exemplo filmes capixabas, através de links de mostras online e links governamentais ao qual selecionei cerca de 4 filmes. Alguns destes filmes também são uma amostra aleatória dos sites de Torrent em que estava navegando, em que realizei uma pesquisa nas páginas por nome.
Contexto americano e influência musical
Alguns filmes marcam a influência estadunidense para a cultura brasileira naquele cenário político, social e econômico. Alguns são mais apreensíveis esteticamente, como o seriado Magnífica 70 (2015), que visualmente descreve os poderes de compra e relações de consumo da época a partir das formas de autoprodução de imagem. Em outros, como” Os embalos de sábado a noite” (1978), são referências musicais daquele período que marcam a entrada da batida eletrônica, nos anos 60, 70 , 80, o que originaria o funk, dando esta característica que marcaria o próximo milênio na Furacão 2000. Sendo esse movimento influenciado pela popularização do samba como estilo concorrente e de duplo acontecimento nesse período. Além disso, o filme Tropicália (2012) traz figuras interessantes da música popular brasileira, em um movimento antropofágico de devorar tudo o que está no exterior e criar algo genuinamente brasileiro, fazendo denúncias e críticas ao governo da época em letras metafóricas como pequenas partículas de resistência vazando a censura política. As letras de Caetano e Gil demonstram que é possível uma resistência micropolítica, que é possível dar vazão como artista mesmo em momentos de censura. Pontuado isso, é necessário se questionar porque a militância estudantil narrada nos filmes como em Kaput (Torre, 1967) é situada em uma frente de resistência ao regime. Ainda assim, há um imaginário não tão romantizado desta resistência, considerando que a classe estudantil era majoritariamente branca e burguesa. Pensamos em povos que foram exterminados como no filme “Guerra Sem fim - luta resistência do povo Krenak na ditadura ”.
Subcategorias: Filmes de guerrilhas ou combate, pessoas procuradas e ou desaparecidas, nomes de políticos e militantes marcantes, dramas clássicos, futebol, música, documentários/documentários estrangeiros, rede globo/mídia.